Existem ao menos quatro fontes capitais para a análise e discussão sobre o depoimento judicial de crianças e adolescentes, todas associadas à Organização das Nações Unidas (ONU):
- Convenção sobre os direitos da criança (1989);
- Resolução Ecosoc 20 (2005);
- Justice in matters involving child victims and witness of crime — Model law and related commentary (2009);
- Justice in matters involving child victims and witness of crime — Handbook for professionals and policymakers (2009).
As quatro referências são parcamente utilizadas nas análises realizadas no Brasil ou, ainda, de modo excessivamente parcial, no caso das menções ao artigo 12 da Convenção sobre os direitos da criança.
Gabriele Valente Fontoura e Roberta Gomes Nunes traduziram recentemente o documento Justice in matters involving child victims and witness of crime — Model law and related commentary. Essa iniciativa é muito bem-vinda, tornando mais acessível fonte relevante para tema que continua a ser debatido, não apenas no Brasil, mas no mundo.
O estudo dos documentos indicados permite facilmente notar a importância de quatro noções: pessoa de apoio, intermediário, revitimização e vitimização secundária.
Em particular, nota-se o destaque concedido à função da pessoa de apoio e não a de intermediário, como ocorre entre nós. Ou seja, no caso brasileiro ocorre exatamente o contrário do que se desenha do conjunto de documentos listados: valoriza-se o intermediário e praticamente não se menciona a possibilidade de intervenção da pessoa de apoio.
Igualmente, é motivo de estranheza que protocolos e legislações no Brasil ignorem a distinção conceitual entre vitimização secundária e revitimização, amplamente utilizada também em pesquisas científicas. É exatamente a diferença entre uma definição e outra que permite a análise sobre os riscos das instituições de proteção e responsabilização causar danos às vítimas. E isso não apenas por uma suposta ou efetiva repetição de procedimentos, mas também por respostas erradas oferecidas às necessidades das vítimas. [Leia mais]