Entrevistei a psicóloga Maria Celina Nina Bernardes que trabalha como Assistente Social em Québec, com famílias de portadores de sofrimento psíquico.
Celina Bernardes é Mestre em Serviço Social pela Universidade de Sherbrooke, Québec (2011), onde defendeu dissertação sobre o desenvolvimento de comunidades a partir da perspectiva de integração local de imigrantes. Ela possui também Mestrado em Teoria Psicanalítica (UFRJ/2000) e é Especialista em Psicanálise (UFF/1997).
Celina Bernardes trabalha em La Boussole, organismo que tem como missão “unir e apoiar os familiares e cuidadores de uma pessoa com manifestações clínicas relacionadas a um distúrbio de saúde mental, e oferecer uma gama de serviços para ajudar, informar e equipá-los para melhorar a sua qualidade de vida” Ela nos apresenta um resumo das atividades que realiza:
La Boussole oferece à sua clientela atendimentos individuais, de casal ou encontros com a toda a família. Entre as atividades de grupo, oferece encontros de apoio e grupos de informação sobre as diversas doenças mentais.
Os encontros de apoio tem como objetivo romper o isolamento das famílias e permitir aos participantes dividir suas experiências e trocar ideias e estratégias para lidar com a doença de seus familiares.
Os grupos de informação visam fornecer informações detalhadas sobre cada diagnóstico. Um outro serviço que é oferecido às famílias é a avaliação sobre sinais de periculosidade em relação a algum membro familiar, seja para si mesmo ou para os outros.
Se for constatado algum comportamento de risco, a família pode entrar com um processo na justiça solicitando que seu familiar seja levado a hospital por policiais, contra sua vontade, para ser avaliado por um psiquiatra.
A linha diretiva de atendimento psicossocial no Canadá é baseada na responsabilização da pessoa doente e no direito da família de apresentar e ter reconhecido seus limites de não se ocupar integralmente de seu parente que esteja em sofrimento psíquico.
Alguns dados do trabalho realizado, referentes ao período 2013–3014:
2.688 atendimentos por telefone;
902 atendimentos presenciais;
332 emails respondidos;
55 avaliações de risco.
- Qual foi seu percurso até La Boussole? Como foi o Mestrado que você fez no Canadá e como chegou ao seu tema de pesquisa?
- Vou tentar responder a essa pergunta da forma mais objetiva possível. O mestrado foi o nosso caminho (meu e do meu marido) para começarmos nossa vida aqui no Canadá. Queríamos ter essa experiência de estudo e achávamos que seria a melhor “porta de entrada” no pais: aprenderíamos melhor a língua, aumentaríamos nossa rede de contatos e, enfim, seria uma forma de ir entendo como as coisa funcionam por aqui. O que de fato se concretizou como uma boa opção. Eu já sabia pelas pesquisas feitas ainda no Brasil que para ser psicóloga no Canadá, eu teria que ter um doutorado, o que não me interessava no momento em que cheguei aqui. Acabei achando que o mestrado seria melhor para o momento em que eu estava e me permitiria ir para o mercado de trabalho com um diploma canadense e num tempo mais razoável. O que também se mostrou como uma boa opção.
- A experiência na universidade foi maravilhosa. O nosso esforço de estudar numa língua que não é a nossa é muito valorizado por todos: colegas de curso, professores e funcionários. As universidade oferecem todos os serviços que os estudantes precisam para terem êxito em seus percursos acadêmicos. Para os estudantes estrangeiros, existe um serviço de revisão de texto que podemos utilizar sempre que precisarmos. Sem falar em vários ateliês sobre como não procrastinar, gestão do stress e da ansiedade, métodos de trabalho intelectual etc.
- O meu tema de mestrado foi pensado a partir da minha própria condição de imigrante. Eu fui vendo que tinha uma demanda enorme de emprego nessa área, o Canadá recebe muitos imigrantes por ano. Quando terminei o mestrado comecei a procurar emprego na área de imigração e também em saúde mental, na qual eu tinha experiência como psicóloga no Brasil. Acabei sendo contratada pela Boussole.
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